No início do século XX, a literatura brasileira passou por uma fase de
transição, em que confluem elementos do Parnasianismo, do Simbolismo e do
Impressionismo, herdeiro do Realismo. Escritores como Coelho Neto, Afrânio
Peixoto, Adelino de Magalhães e Machado de Assis (última fase) não escaparam ao
dualismo da época: De um lado os laços com o Realismo e o Naturalismo e do outro impregnações
intimistas e esteticistas.
Por outro lado, surgiram na época tendências que anteciparam alguns dos
programas defendidos posteriormente pelos modernistas de 1922. Denomina-se
pré-modernista tudo que nas primeiras décadas do século revelaram novo enfoque
da nossa realidade cultural.
Nesse sentido, pode-se considerar pré-modernista a prosa regionalista:
Euclides da
Cunha
Euclides Rodrigues
Pimenta da Cunha nasceu a 20 de janeiro de 1866 e morreu envolvido num grande
escândalo familiar, assassinado em duelo pelo amante da esposa, a 15 de agosto
de 1909. Se formou engenheiro militar em 1892, exerceu a função de engenheiro
civil. Foi membro da ABL, do Instituto Histórico e catedrático em Lógica pelo
Colégio Dom Pedro II. Viajou muito e escreveu Os Sertões pela experiência
própria de ter testemunhado a Guerra de Canudos como correspondente
jornalístico do Estado de São Paulo.
Positivista, por alguns
autores é considerado um naturalista, mas seu estilo pessoal e inconformismo
caracterizam-no como um pré-modernista. As passagens a seguir provém de Os
Sertões, sendo cada uma de uma parte da obra.
"Ao passo que a
caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na
trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com folhas urticantes, com o
espinho, com os gravetos estalados em lanças; e desdobra-se lhe na frente
léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos
estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou
estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da
flora agonizante..." Os Sertões - A Terra
"Porque não no-los
separa um mar, separam-no-los três séculos..." Os Sertões - O
Homem

PRINCIPAIS OBRAS:
Os Sertões (1902) - Retrata a Guerra dos Canudos, sendo publicado nos
seguintes idiomas: alemão, chinês, francês, inglês, dinamarquês, espanhol,
holandês, italiano e sueco.
Contrastes e Confrontos (1907) - Pode-se dizer que é uma obra científica e uma obra de arte. Trata-se de uma obra única na história das letras brasileiras.
- À Margem da História (1909) - Publicação póstuma, reúne os artigos de Euclides sobre a Amazônia antes e após sua viagem à região. Os ensaios amazônicos reforçam a tese de uma formação histórica marcada por contrastes e antagonismos.
Monteiro Lobato:

"Como se fosse de natural engraçado, vivera até
ali da veia cômica, e com ela amanhara casa, mesa, vestuário e o mais. Sua
moeda corrente era micagens, pilhérias, anedotas de inglês e tudo quanto bole
com os músculos faciais do animal que ri, vulgo homem, repuxando risos ou
matrecolejando gargalhadas." Urupês
"Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e
feio na realidade!" Urupês
"A quem em nossa terra percorre tais e tais
zonas, vivas outrora, hoje mortas, ou em via disso, tolhidas de incansável caquexia,
uma verdade, que é um desconsolo, ressurte e tantas ruínas: nosso progresso é
nômade e sujeito a paralisias súbitas. Radica-se mal. Conjugado a um grupo de
fatores sempre os mesmos, reflui com eles duma região para outra. Não emite
peão. Progresso de cigano, vive acampado. Emigra, deixando para trás de si um
rastilho de taperas." Cidades Mortas
"Há de subir, há de subir há de chegar a
sessenta mil réis em julho. Café, café, só café!..."Cidades Mortas
PRINCIPAIS OBRAS:
- Idéias de Jeca Tatu (1919) - História de Vilela, Camilo e Rita envolvidos em um triângulo amoroso.
- A Menina do Narizinho Arrebitado (1920) - Tem como personagens principais Emília e Narizinho em mais uma de suas histórias inéditas.
- O Pica-Pau Amarelo (1939) - Aborda a Turma do Sítio (Emília, Narizinho, Pedrinho, Marquês de Rabicó, Conselheiro, Quindim, Visconde de Sabugosa, Dona Benta, Tia Nastácia, Tio Barnabé, Cuca, Saci, etc) vivendo situações e aventuras que mexem com a imaginação
Lima
Barreto

PRINCIPAIS OBRAS:
- Triste Fim de Policarpo Quaresma (romance – 1911)
- Numa e Ninfa (romance – 1915)
- Morte e M. J. Gonzaga de Sá (romance – 1919)
- Os Bruzundangas (crônica – 1923)
- Clara dos Anjos (romance – 1924)
- Histórias e Sonhos (contos – 1956)
Augusto dos Anjos

"Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra,"
Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra,"
PRINCIPAIS OBRAS:
- Saudade (poema - 1900) - Mostra que tanto os atos bons quanto os ruins do passado de alguém são necessários para completar o indivíduo.
- Eu e Outras Poesias (único livro de poemas - 1912) - Articula o trinômio como reflexo de um momento histórico marcado por um sentimento de perda, um mal-estar disseminado entre os intelectuais, uma angústia diante da falência da Civilização Ocidental e dos ideais do Progresso.
- Psicologia de um Vencido (soneto) - Com o uso de palavras rebuscadas e repleto de simbolismo, este soneto aborda o pessimismo marcante e retrata a tragédia da morte com naturalidade.
- Versos íntimos - Como todos os outros poemas e sonetos de Anjos, este também aborda a morte e o próprio "eu" o centro do seu pensamento
Graça Aranha

"Milkau estava sereno no alto da montanha. Descobrira a cabeça de um louro de ninfa, e sobre ela, e na barba revolta, a luz do sol batia, numa fulguração de resplendor. Era um varão forte, com uma pele rósea e branda de mulher, e cujos poderosos olhos, da cor do infinito, absorviam, recolhiam docemente a visão segura do que iam passando. A mocidade ainda persistia em não o abandonar; mas na harmonia das linhas tranquilas do seu rosto já repousava a calma da madureza que ia chegando." Canaã
"Tudo o que vês, todos os sacrifícios, todas as agonias, todas as revoltas, todos os martírios são formas errantes de Liberdade. E essas expressões desesperadas, angustiosas, passam no curso dos tempos, morrem passageiramente, esperando a hora da ressurreição... Eu não sei se tudo o que é vida tem um ritmo eterno, indestrutível, ou se é informe e transitório... Os meus olhos não atingem os limites inabordáveis do Infinito, a minha visão se confina em volta de ti [...] Eu te suplico, a ti e à tua ainda inumerável geração, abandonemos os nossos ódios destruidores, reconciliemo-nos antes de chegar ao instante da Morte..." Canaã
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