sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Breves considerações


Dentre os vários significados existentes que definem o termo prodígio, correlacionamos a ideia principal que é transmitida por este vocábulo a um período literário marcante para a história deste país, afinal a fase pré modernista e o modernismo traduzem de forma clara a excepcionalidade da antiga terra Vera Cruz, que recepcionou povos europeus que disseminaram aqui suas influências culturais e literárias. Por muito tempo fomos obrigados a vangloriar de forma exacerbada a arte proveniente das terras europeias, merecendo destaque a interferência francesa. Somente a partir do século vinte que começamos desmistificar nossos pensamentos artísticos através de correntes patrióticas que mostraram o talento dos artistas brasileiros. Sendo este período prodigioso da história nacional um marco relevante para a construção de um acervo literário nosso, no qual, deglutidos todas as dominações aqui implantadas e liberamos um produto tipicamente BRASILEIRO, produto este, incomum até então, mostrando o talento que estivera por séculos camuflados. E é por toda esta magnificência das fases já citadas que denominamos nosso espaço literário com tal termo. Esperamos que os visitantes se deleitem nas nossas publicações, tornando-se assim indivíduos prodigiosos tal qual foi este período.

Resumo das principais pinturas modernistas


Principais pintores do Modernismo Brasileiro

Tarsila do Amaral (1886 - 1973)

Tarsila do Amaral, nasceu em São Paulo. Foi uma das principais figuras do Movimento Modernista Brasileiro, mas não participou da 'Semana de Arte Moderna de 1922', estava na Europa estudando.
Fez parte do 'Grupo dos Cinco' do qual fazia parte, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Pichia, Anita Malfatti.

Quadro 'Abaporu'
Quadro 'Antropofagia'
                                        

 
Tarsila foi a criadora do movimento 'Pau-Brasil' e 'Antropofágico', movimento que clamava por uma estética de cunho Nacionalista nas tendências que os brasileiros incorporavam dos movimentos artísticos vindos da Europa.
Sua obra foi marcada por cores vivas e alegres, técnica do cubismo, abordagem de temas sociais, do cotidiano e paísagens do Brasil.

Quadro 'Operários'
                                                
 


        Quadro 'Religião Brasileira'
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Di Cavalcanti (1897/1976)

Di Cavalcante Nasceu no Rio de janeiro, foi pintor, ilustrador e caricaturista, desenhista de jóias, tapetes e painéis. 'A Semana de Arte Moderna de 1922' foi idéia sua.

Quadro 'Cinco Moças de Guaratinguetá'
 
 

                                                          
Seus temas favoritos foram os temas nacionais e populares, como favelas, operários, soldados, marinheiros, figuras de belas negras e festas populares. Sua arte tem uma abordagem sensual e tropical.

Quadro 'Mulata de Vestido Verde'

                                                                        
    
                                                               
                       
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao longo de sua carreira recebeu muitos prêmios importantes como o de 'melhor pintor brasileiro' na bienal de São Paulo de 1953 e uma medalha de ouro por sua exposição na França, entre tantos outros prêmios.
Os amigos que tiveram o privilégio de conviver com Di Cavalcante, dizem que ele era um boêmio e romântico que teve incontáveis mulheres. A vida para Di Cavalcante era uma constante alegria e celebração.
Quadro 'Mulheres, Flores e Araras'

                                         
Quadro 'Baile Popular'

 
 
 
Cândido Portinari (1903/1962)

Cândido Portinari era filho de imigrantes Italianos, nasceu em São Paulo numa fazenda de café, Santa Rosa.
Mesmo sendo de familia muito humilde, e cursado apenas o primário, seu dom artístico foi manifestado na infância, aos 6 anos de idade.
Aos nove anos participou dos trabalhos de restauração da igreja de Brodowski, ajudando os pintores Italianos, mais tarde desenhou o retrato de Carlos Gomes.
Aos 15 anos viajou para São Paulo para estudar no Liceu de Artes e Ofícios onde se matriculou na Escola Nacional de Belas Artes para estudar desenho e pintura.
Daí em diante foi uma trajetória de sucesso, prêmios e viagens ao estrangeiro.

Quadro 'Favela'                                                                    

                                                                                         
 
 
Quadro 'Menino com Pião'
                                                                                  

Cândido Portinari pintou cerca de cinco mil obras, que vão desde de pequenos esboços a gigantescos murais. Nenhum pintor brasileiro alcançou mais projeção internacional do que Portinari.

Quadro 'Os Retirantes'
 

 Anita Malfatti

 
Um dos períodos de maior produção artística de Anita Malfatti foi durante sua estadia nos Estados Unidos, quando a artista se isolou numa ilha de pescadores na Costa do Maine chamada Monhegan Island (nome que serve de subtítulo a um dos quadros da época: Rochedos
 
 
Anita passava os dias pintando ao ar livre, e ao anoitecer ouvia as aulas inspiradas de Homer Boss. Nesse ambiente de liberdade e inspiração, a artista explorou as influências expressionistas adquiridas durante seu aprendizado anterior na Alemanha. Em obras como A Ventania e A Onda, a paisagem local é representada como uma força selvagem, agressiva e dinâmica, e o uso da deformação expressa certa inquietação do olhar humano diante da natureza.
 
 

 

3ª Fase do Modernismo Brasileiro - 1945 em diante

 


Características:
  • A ficção desenvolve a sondagem interior;
  • A linha regionalista acrescenta à análise social as preocupações metafísicas e universalistas;
  • Renova-se a estrutura narrativa, devido à aguda consciência do fazer literário;
  • Exploram-se as potencialidades da linguagem;
  • A poesia volta-se para preocupações de caráter formal, busca-se a essência do poético, a linguagem despoja-se, os poetas demonstram aguda consciência estética;
  • Manifesta-se a tendência ao intelectualismo e ao hermetismo;
  • Desenvolvimento do teatro e da crítica literária.

Contexto Histórico

Com a transformação do cenário sócio-político do Brasil, a literatura também transformou-se. O fim da Era Vargas, a ascensão e queda do Populismo, a Ditadura Militar, e o contexto da Guerra Fria, foram, portanto, de grande influência na Terceira Fase. Na prosa, tanto no romance quanto no conto, houve a busca de uma literatura intimista, de sondagem psicológica e introspectiva, tendo como destaque Clarice Lispector. O regionalismo, ao mesmo tempo, ganha uma nova dimensão com a recriação dos costumes e da fala sertaneja com Guimarães Rosa, penetrando fundo na psicologia do jagunço do Brasil central. A pesquisa da linguagem foi um traço caraterísticos dos autores citados, sendo eles chamados de instrumentalistas.

A geração de 45 surge com poetas opositores das conquistas e inovações modernistas de 22. A nova proposta, inicialmente, é defendida pela revista Orfeu em 1947. Negando a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras características modernistas, os poetas de 45 buscaram uma poesia mais “equilibrada e séria”, tendo como modelos os Parnasianos e Simbolistas. No fim dos anos 40, surge um poeta singular, não estando filiado esteticamente a nenhuma tendência: João Cabral de Melo Neto.
Autores representativos:
  • Poesia: João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade;
  • Prosa: Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Adonias Filho, Autran Dourado, Osman Lins;
  • Teatro: Nelso Rodrigues, Ariano Suassuna, Dias Gomes, Maria Clara Machado

2ª Fase do Modernismo Brasileiro - 1930 a 1945

 

Características:
  • Fase de maior estabilidade e de ampliação das conquistas modernistas;
  • A poesia, abandonando o tom predominantemente humorístico e irreverente da fase anterior, demonstra preocupações sociais, universalistas e metafísicas;
  • A prosa evolui em duas direções: o regionalismo neonaturalista de cunho social e a pesquisa psicológica, introspectiva.

 

Autores representativos:
     
  • Poesia: Jorge de Lima, Augusto Federico Schmidt, Murilo Mendes, Tasso da Silveira, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade;
  • Prosa regionalista: José Américo de Almeira (A Bagaceira), Mário de Andrade (Macunaíma),
    Rachel de Queirós, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado;
  • Prosa psicológica: Cornélio Pena, Otávio de Faria, Lúcio Cardoso.



 A maioria dos poetas de 30 absorveram experiências de 22, como a liberdade temática, o gosto da expressão atualizada ou inventiva, o verso livre e o antiacademicismo. Portanto, ela não precisou ser tão combativa quanto a de 22, devido ao achamento de uma linguagem poética modernista já estruturada. Passara, então, a aprimorá-la, prosseguindo a tarefa de purificação de meios e formas direcionando e ampliando a temática da inquietação filosófica e religiosa, com Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade.
 
Soneto do Corifeu
(Vinicius de Moraes)

São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.

E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.

Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.
 
 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

As criações de Manuel Bandeira sob a ótica Modernista

Não podemos falar sobre Manuel Bandeira sem antes recordarmos o que foi o Modernismo Brasileiro. Este período literário eclodiu com a Revolução Industrial (século XX), pois a mesma foi fruto de uma grande revolução: a Revolução de 30, onde Getúlio Vargas sobe ao poder e a burguesia industrial define um novo rumo para a economia do país, que foi a industrialização.
Os autores que fizeram parte da era modernista tinham como objetivo resgatar as origens culturais, até então alicerçadas nos moldes importados.
Foi também autor de várias poesias e de textos em prosa como Ritmo Absoluto, contribuindo também para vários jornais e traduzindo peças teatrais.
Analisaremos, pois, uma poesia do referido poeta enfatizando as características modernistas:

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

                                                                                Manuel Bandeira


 Podemos perceber uma crítica acentuada no que se refere ao lirismo exagerado, tanto pregado pelos autores do Romantismo, pois os mesmos abusavam deste instinto melancólico como forma de fugir da realidade. Critica também os parnasianos, que tanto se prenderam ao vernaculismo e às formas fixas de expressão, como os sonetos. Já o Modernismo valorizava a liberdade de expressão e o uso dos versos livres, inclusive no próprio poema há o predomínio dos mesmos. E, por último, notamos uma aproximação entre a língua falada e escrita, exprimindo certo coloquialismo, que também era uma característica da estética em estudo.

1ª Fase do Modernismo Brasileiro - 1922 a 1930

 

Características:
  • Busca de inspiração nas raízes da nacionalidade: Brasil pré-cabralino, índio, cultura provinciana de faixa litorânea com tradições coloniais, marcha para o oeste;
  • Influência das correntes de vanguarda européia e estadunidense;
  • Espírito polêmico e destruidor: anarquia, irracionalismo, manifestos, luta contra a tradição, mais destruição que construção;
  • Nacionalismo intransigente.

Obras representativas: Pau-Brasil, Memórias Sentimentais de João Miramar (Oswald de Andrade), Paulicéia Desvairada, A Escrava que não é Isaura, Amar

Principais artistas da Arte Moderna

Di Cavalcanti 

                                                   Tarsila do Amaral

Anita Malfatti


                                                              Milton Dacosta




Grupos Modernistas

 


Passada a batalha inicial, em que todos se uniram para enfrentar a reação do grande público e dos intelectuais conservadores, formaram-se vários grupos que partiram em busca do que procuravam.

Segundo Domício Proença Filho (Estilos de Época na Literatura), os grupos modernistas surgidos após a Semana podem assim ser relacionados:
  • Corrente Dinamista - Rio de Janeiro
    Características: preocupação com o progresso material, a técnica do mundo moderno, o movimento e a velocidade.
    Representantes principais: Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Renato de Almeida, Álvaro Moreira, Villa-Lobos, Agripino Grieco.
    Livro-síntese das teorias: Velocidade, de Renato de Almeida.
  • Corrente Primitivista - São Paulo
    Características: preocupação com motivos primitivos nacionais.
    Representantes principais: Oswald de Andrade, Raul Bopp, Antônio de Alcântara Machado.
    Síntese das teorias: Revista Antropofagia e Manifesto Pau Brasil.
  • Corrente Nacionalista - São Paulo
    Características: preocupação com a "nacionalização" da literatura através de motivos brasileiros, folclóricos, indígenas, nativos, americanos, anti-europeísmo. Aglutina várias correntes: a do Movimento Verde-Amarelo (1926), a do Movimento da Anta (1927), a do Movimento da Bandeira (1936).
    Representantes principais: Oswald de Andrade, Raul Bopp, Guilherme de Almeida, Carriano Ricardo, Menotti del Picchia, Cândido Motta Filho.
    Síntese das teorias: Manifesto do Verde-Amarelismo ou da Escola da Anta.
  • Corrente Espiritualista - Rio de Janeiro
    Características: manutenção da herança simbolista, defesa da tradição, do mistério, conciliação do passado e futuro, universalidade de temas.
    Representantes principais: Tasso da Silveira, Andrade Muricy, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Araújo, Barreto Filho, Adelino Magalhães e, mais tarde, Cecília Meireles e Murilo Mendes.
    Síntese das teorias: Revista Festa.
  • Corrente Desvairista - Descentralizada
    Características: liberdade da pesquisa estética, renovação da poesia, criação da língua nacional.
    Representantes principais: Mário de Andrade.
    Síntese das teorias: Prefácio Interessantíssimo, de Mário de Andrade, do livro de poemas Paulicéia Desvairada.
  • Corrente do sentimentalismo intimista e esteticista
    Representantes principais: Ribeiro Couto, Guilherme de Almeida.

Alguns, escritores, como Manuel Bandeira, não se filiaram a nenhum grupo. Por outro lado, um mesmo autor figura ora em uma corrente ora em outra. Era uma época de busca e ampliação de caminhos.

A Semana de Arte Moderna

Realizada nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana de Arte Moderna constou de três recitais em que houve conferências doutrinárias, declamações de poemas e leitura de trechos em prosa, apresentação de música e coreografia, exposição de pintura e escultura.

Consubstanciação de uma série de tendências que vinham gradativamente tomando corpo, a Semana é ao mesmo tempo ponto de chegada e ponto de partida. Representa uma tomada de posição dos artistas novos diante do público, um assumir conscientemente o propósito de buscar caminhos
renovadores para a cultura e a arte brasileiras. Desse modo, o grupo de vanguarda (Ronald de Carvalho, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Sérgio Melliet, Guiomar Novaes, Villa-Lobos, Victor Brecheret, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, dentre outros) lançava-se à aventura com alguns propósitos definidos:
  • Oposição ao passado, à ênfase oratória, à eloquência e ao formalismo parnasiano;
  • Defesa do direito à pesquisa estética, que conduzisse à mudança e atualização da arte brasileira;
  • Consciência da necessidade de valorização do nacional.

Modernismo

O Modernismo teve início em meio à fortalecida economia do café e suas oligarquias rurais. A política do “café com leite” ditava o cenário econômico, ilustrado pelo eixo São Paulo - Minas Gerais. Contudo, a industrialização chegava ao Brasil em consequência da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e ocasionou o processo de urbanização e o surgimento da burguesia. O Modernismo tem seu marco inicial com a realização da Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. O grupo de artistas formado por pintores, músicos e escritores pretendia trazer as influências das vanguardas europeias à cultura brasileira. Essas correntes europeias expunham na literatura as reflexões dos artistas sobre a realidade social e política vivida. Por este motivo, o movimento artístico “Semana de Arte Moderna” quis trazer a reflexão sobre a realidade brasileira sociopolítica do início do século XX.

 

                                                            

Modernismo Brasileiro


 




Contexto sociocultural:


De fins do século XIX até 1930, coube aos proprietários rurais de São Paulo e Minas Gerais papel decisivo na vida econômica e política do país. A essa "nobreza fundiária", basicamente conservadora, juntava-se a burguesia industrial incipiente em São Paulo e no Rio de Janeiro, as camada dos profissionais liberais e o exército que, desde a Proclamação da República, vinha exercendo um papel político relevante.


Os processos de urbanização e a vinda de imigrantes europeus para o centro-sul modificam a fisionomia da sociedade brasileira. Por outro lado, cresce a pequena classe média, a classe operária e o sub proletariado, em consequência da marginalização dos antigos escravos. Acelera-se o declínio da cultura canavieira do Nordeste, que não pode competir com o café paulista em ascensão.


 

Obras características desse movimento











Obras do Pré-Modernismo







 

Simões Lopes Neto

Simões Lopes Neto
O Capitão João Simões Lopes Neto (1865-1916) publicou três livros em toda a vida, todos na cidade em que nascera, Pelotas, no RS. Foram eles Cancioneiro Guasca, Lendas do Sul e Contos Gauchescos. Fez teatro e, apesar de suas obras terem sempre cunho tradicionalista, era um homem de hábitos urbanos. Acalentava grandes sonhos literários e anunciou na primeira edição deste último livro que já tinha seis outros prontos, dos quais apenas Cancioneiro Guasca e Casos do Romualdo foram publicados em vida, este último apenas em folhetim. Terra Gaúcha apareceu mais tarde, mas diferente do que ele anunciou. Seu reconhecimento foi póstumo.
"E do trotar sobre tantíssimos rumos; das pousadas pelas estâncias dos fogões a que se aqueceu; dos ranchos em que cantou, dos povoados que atravessou; das coisas que ele compreendia e das que eram-lhe vedadas ai singelo entendimento; do pêlo-a-pêlo com os homens, das erosões, da morte e das eclosões da vida, entre o Blau - moço, militar - e o Blau - velho, paisano -, ficou estendida uma longa estrada semeada de recordações - casos, dizia -, que de vez em quando o vaqueano recontava, como quem estende no sol, para arejar, roupas guardadas ao fundo de uma arca." Contos Gauchescos
"Foi assim e foi por isso que os homens, que quando pela primeira vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, chamam-na desde então de boitatá, cobra de fogo, boitatá, a boitatá!" Lendas do Sul

"Findava aqui o calhamaço de que a princípio se falou, quando disse que recebi em certa hora de pleno dezembro, por véspera de Natal, quando eu estava, desesperado, a abanar mosquitos (...) Apenas ao canto da página, a lápis, havia uns dizeres que custei a decifrar, e que eram estes: o 2o. Volume será o dos 'Sonhos do Romualdo'" Casos do Romualdo

Principais Autores e Obras do Pré-Modernismo

No início do século XX, a literatura brasileira passou por uma fase de transição, em que confluem elementos do Parnasianismo, do Simbolismo e do Impressionismo, herdeiro do Realismo. Escritores como Coelho Neto, Afrânio Peixoto, Adelino de Magalhães e Machado de Assis (última fase) não escaparam ao dualismo da época: De um lado os laços com o Realismo e o Naturalismo e do outro impregnações intimistas e esteticistas.

Por outro lado, surgiram na época tendências que anteciparam alguns dos programas defendidos posteriormente pelos modernistas de 1922. Denomina-se pré-modernista tudo que nas primeiras décadas do século revelaram novo enfoque da nossa realidade cultural.

Nesse sentido, pode-se considerar pré-modernista a prosa regionalista:

Euclides da Cunha

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu a 20 de janeiro de 1866 e morreu envolvido num grande escândalo familiar, assassinado em duelo pelo amante da esposa, a 15 de agosto de 1909. Se formou engenheiro militar em 1892, exerceu a função de engenheiro civil. Foi membro da ABL, do Instituto Histórico e catedrático em Lógica pelo Colégio Dom Pedro II. Viajou muito e escreveu Os Sertões pela experiência própria de ter testemunhado a Guerra de Canudos como correspondente jornalístico do Estado de São Paulo.

Positivista, por alguns autores é considerado um naturalista, mas seu estilo pessoal e inconformismo caracterizam-no como um pré-modernista. As passagens a seguir provém de Os Sertões, sendo cada uma de uma parte da obra.

"Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças; e desdobra-se lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante..." Os Sertões - A Terra

"Porque não no-los separa um mar, separam-no-los três séculos..." Os Sertões - O Homem

"E volvendo de improviso às trincheiras, volvendo em corridas para os pontos abrigados, agachados em todos os anteparos [...] os triunfadores, aqueles triunfadores memorados pela História, compreenderam que naquele andar acabaria por devorá-los, um a um, o último reduto combatido. Não lhes bastavam seis mil Mannlichers e seis mil sabres; e o golpear de doze mil braços [...] ; e os degolamentos, e a fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias de canhoneio contínuo; e o esmagamento das ruínas; e o quadro indefinível dos templos derrocados; e por fim, na ciscalhagem das imagens rotas, dos altares abatidos, dos santos em pedaços - sob a impassibilidade dos céus tranquilos e claros - a queda de um ideal ardente, a extinção absoluta de uma crença consoladora e forte..." Os Sertões - A Luta
 
PRINCIPAIS OBRAS:
     
Os Sertões (1902) - Retrata a Guerra dos Canudos, sendo publicado nos seguintes idiomas: alemão, chinês, francês, inglês, dinamarquês, espanhol, holandês, italiano e sueco.

     
  • Contrastes e Confrontos (1907) - Pode-se dizer que é uma obra científica e uma obra de arte. Trata-se de uma obra única na história das letras brasileiras.
  •  À Margem da História (1909) - Publicação póstuma, reúne os artigos de Euclides sobre a Amazônia antes e após sua viagem à região. Os ensaios amazônicos reforçam a tese de uma formação histórica marcada por contrastes e antagonismos.

 
 
Monteiro Lobato:
 
 
 
José Bento Monteiro Lobato nasceu em 18/04/1882 como José Renato Monteiro Lobato e mudou seu nome mais tarde para poder usar a bengala com as iniciais JBML do pai. Bacharel em Direito contra a vontade, dizia sempre o que pensava e defendia a verdade. Escreveu livros para crianças e iniciou o movimento editorial brasileiro. Meteu-se em encrenca ao afirmar que o Brasil tinha petróleo (e estava certo). Editou livros para adultos e, desgostoso, voltou a literatura infantil. Morreu a 04/07/48. Em Urupês aparece pela primeira vez a figura de Jeca Tatu. Seu outro livro de contos muito famoso, que se junta a sua bibliografia de 30 obras é Cidades Mortas. Uma característica única de Monteiro Lobato é sua linguagem, simplificada, mais até do que a atual gramática oficial.



"Como se fosse de natural engraçado, vivera até ali da veia cômica, e com ela amanhara casa, mesa, vestuário e o mais. Sua moeda corrente era micagens, pilhérias, anedotas de inglês e tudo quanto bole com os músculos faciais do animal que ri, vulgo homem, repuxando risos ou matrecolejando gargalhadas." Urupês
"Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!" Urupês
 
"A quem em nossa terra percorre tais e tais zonas, vivas outrora, hoje mortas, ou em via disso, tolhidas de incansável caquexia, uma verdade, que é um desconsolo, ressurte e tantas ruínas: nosso progresso é nômade e sujeito a paralisias súbitas. Radica-se mal. Conjugado a um grupo de fatores sempre os mesmos, reflui com eles duma região para outra. Não emite peão. Progresso de cigano, vive acampado. Emigra, deixando para trás de si um rastilho de taperas." Cidades Mortas
"Há de subir, há de subir há de chegar a sessenta mil réis em julho. Café, café, só café!..."Cidades Mortas

 

PRINCIPAIS OBRAS:
  • Urupês (1918) - Aborda a decadência da agricultura no Vale do Paraíba, após o “ciclo” do café.
  • Idéias de Jeca Tatu (1919) - História de Vilela, Camilo e Rita envolvidos em um triângulo amoroso.
  • A Menina do Narizinho Arrebitado (1920) - Tem como personagens principais Emília e Narizinho em mais uma de suas histórias inéditas.
  • O Pica-Pau Amarelo (1939) - Aborda a Turma do Sítio (Emília, Narizinho, Pedrinho, Marquês de Rabicó, Conselheiro, Quindim, Visconde de Sabugosa, Dona Benta, Tia Nastácia, Tio Barnabé, Cuca, Saci, etc) vivendo situações e aventuras que mexem com a imaginação
 
Lima Barreto
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1881. Filho de um tipógrafo da Imprensa Nacional e de uma professora pública, era mestiço de nascença e foi iniciado nos estudos pela própria mãe, que perdeu aos 7 anos de idade. O vício da bebida começou a manifestar-se nele, porém não o impediu de continuar a sua colaboração na imprensa, iniciando em 1914 uma série de crônicas diárias no Correio da Noite. Candidatou-se à vaga na Academia Brasileira de Letras, mas seu pedido de inscrição não foi sequer considerado. De dezembro de 1919 a janeiro de 1920 foi internado no hospício, devido à forte crise nervosa, resultando a experiência nas anotações dos primeiros capítulos da obra O Cemitério dos Vivos. Morreu em 1° de novembro de 1922, na cidade natal.

 
 
 
PRINCIPAIS OBRAS:
  • Recordações do Escrivão Isaías Caminha (romance – 1909)
  • Triste Fim de Policarpo Quaresma (romance – 1911)
  • Numa e Ninfa (romance – 1915)
  • Morte e M. J. Gonzaga de Sá (romance – 1919)
  • Os Bruzundangas (crônica – 1923)
  • Clara dos Anjos (romance – 1924)
  • Histórias e Sonhos (contos – 1956)
 
 
 

Augusto dos Anjos

Notoriamente solitário, Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) formou-se em direito e foi professor de Português. Nervoso, misantropo e solitário, este possível ateu morreu de pneumonia dupla antes de assumir um cargo que lhe daria mais recursos, já que sua única obra foi impressa com recursos de seu irmão. Publicou apenas um único livro de poesias, Eu. Este livro foi mais tarde reeditado como Eu e outras poesias. Sua obra era profundamente pessimista e sua visão da morte como o fim, o linguajar e os temas usados, por muitos considerados como sendo de mau gosto, é única em nossa literatura.
"Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra,"
PRINCIPAIS OBRAS:
  • Saudade (poema - 1900) - Mostra que tanto os atos bons quanto os ruins do passado de alguém são necessários para completar o indivíduo.
  • Eu e Outras Poesias (único livro de poemas - 1912) - Articula o trinômio como reflexo de um momento histórico marcado por um sentimento de perda, um mal-estar disseminado entre os intelectuais, uma angústia diante da falência da Civilização Ocidental e dos ideais do Progresso.
  • Psicologia de um Vencido (soneto) - Com o uso de palavras rebuscadas e repleto de simbolismo, este soneto aborda o pessimismo marcante e retrata a tragédia da morte com naturalidade.
  • Versos íntimos - Como todos os outros poemas e sonetos de Anjos, este também aborda a morte e o próprio "eu" o centro do seu pensamento
 
Graça Aranha

 
José Pereira da Graça Aranha nasceu em São Luís do Maranhão a 21/06/1848, tendo sido juiz e diplomata. Uma influência intelectual decisiva em sua obra é a de Tobias Barreto, que conheceu em 1882 enquanto cursava Direito no Recife. Formou-se em direito seis anos depois e mais quatro anos após exerceu o caso de juiz em Porto do Cachoeiro, ES, onde tomou conhecimento dos fatos que inspiraram Canaã. Seu primeiro trabalho foi o prefácio de um livro em 1894, quando já morava no RJ. Dois anos depois, em 1896, participou da fundação da ABL, mesmo nunca tendo publicado nenhuma obra literária; tal fato só foi possível porque seu amigo Joaquim Nabuco lhe foi "fiador literário" até 1902, ano da publicação de Canaã. Partiu em 1899 com o mesmo Nabuco para Europa como diplomata. Em 1911 sua peça Malazarte foi encenada com sucesso em Paris. Se aposentou da diplomacia em 1921, participou da Semana de Arte Moderna de 1922 e abandonou a ABL 1924. Não é considerado modernista porque sua única obra "modernista", A viagem maravilhosa, de 1939, é feita em um estilo extremamente artificial. Morreu logo antes de publicar sua autobiografia, O meu próprio romance, em 1931. Sua única obra de significado verdadeiro é Canaã, donde provém as passagens que seguem.

"Milkau estava sereno no alto da montanha. Descobrira a cabeça de um louro de ninfa, e sobre ela, e na barba revolta, a luz do sol batia, numa fulguração de resplendor. Era um varão forte, com uma pele rósea e branda de mulher, e cujos poderosos olhos, da cor do infinito, absorviam, recolhiam docemente a visão segura do que iam passando. A mocidade ainda persistia em não o abandonar; mas na harmonia das linhas tranquilas do seu rosto já repousava a calma da madureza que ia chegando." Canaã

"Tudo o que vês, todos os sacrifícios, todas as agonias, todas as revoltas, todos os martírios são formas errantes de Liberdade. E essas expressões desesperadas, angustiosas, passam no curso dos tempos, morrem passageiramente, esperando a hora da ressurreição... Eu não sei se tudo o que é vida tem um ritmo eterno, indestrutível, ou se é informe e transitório... Os meus olhos não atingem os limites inabordáveis do Infinito, a minha visão se confina em volta de ti [...] Eu te suplico, a ti e à tua ainda inumerável geração, abandonemos os nossos ódios destruidores, reconciliemo-nos antes de chegar ao instante da Morte..." Canaã