quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Principais Autores e Obras do Pré-Modernismo

No início do século XX, a literatura brasileira passou por uma fase de transição, em que confluem elementos do Parnasianismo, do Simbolismo e do Impressionismo, herdeiro do Realismo. Escritores como Coelho Neto, Afrânio Peixoto, Adelino de Magalhães e Machado de Assis (última fase) não escaparam ao dualismo da época: De um lado os laços com o Realismo e o Naturalismo e do outro impregnações intimistas e esteticistas.

Por outro lado, surgiram na época tendências que anteciparam alguns dos programas defendidos posteriormente pelos modernistas de 1922. Denomina-se pré-modernista tudo que nas primeiras décadas do século revelaram novo enfoque da nossa realidade cultural.

Nesse sentido, pode-se considerar pré-modernista a prosa regionalista:

Euclides da Cunha

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu a 20 de janeiro de 1866 e morreu envolvido num grande escândalo familiar, assassinado em duelo pelo amante da esposa, a 15 de agosto de 1909. Se formou engenheiro militar em 1892, exerceu a função de engenheiro civil. Foi membro da ABL, do Instituto Histórico e catedrático em Lógica pelo Colégio Dom Pedro II. Viajou muito e escreveu Os Sertões pela experiência própria de ter testemunhado a Guerra de Canudos como correspondente jornalístico do Estado de São Paulo.

Positivista, por alguns autores é considerado um naturalista, mas seu estilo pessoal e inconformismo caracterizam-no como um pré-modernista. As passagens a seguir provém de Os Sertões, sendo cada uma de uma parte da obra.

"Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças; e desdobra-se lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante..." Os Sertões - A Terra

"Porque não no-los separa um mar, separam-no-los três séculos..." Os Sertões - O Homem

"E volvendo de improviso às trincheiras, volvendo em corridas para os pontos abrigados, agachados em todos os anteparos [...] os triunfadores, aqueles triunfadores memorados pela História, compreenderam que naquele andar acabaria por devorá-los, um a um, o último reduto combatido. Não lhes bastavam seis mil Mannlichers e seis mil sabres; e o golpear de doze mil braços [...] ; e os degolamentos, e a fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias de canhoneio contínuo; e o esmagamento das ruínas; e o quadro indefinível dos templos derrocados; e por fim, na ciscalhagem das imagens rotas, dos altares abatidos, dos santos em pedaços - sob a impassibilidade dos céus tranquilos e claros - a queda de um ideal ardente, a extinção absoluta de uma crença consoladora e forte..." Os Sertões - A Luta
 
PRINCIPAIS OBRAS:
     
Os Sertões (1902) - Retrata a Guerra dos Canudos, sendo publicado nos seguintes idiomas: alemão, chinês, francês, inglês, dinamarquês, espanhol, holandês, italiano e sueco.

     
  • Contrastes e Confrontos (1907) - Pode-se dizer que é uma obra científica e uma obra de arte. Trata-se de uma obra única na história das letras brasileiras.
  •  À Margem da História (1909) - Publicação póstuma, reúne os artigos de Euclides sobre a Amazônia antes e após sua viagem à região. Os ensaios amazônicos reforçam a tese de uma formação histórica marcada por contrastes e antagonismos.

 
 
Monteiro Lobato:
 
 
 
José Bento Monteiro Lobato nasceu em 18/04/1882 como José Renato Monteiro Lobato e mudou seu nome mais tarde para poder usar a bengala com as iniciais JBML do pai. Bacharel em Direito contra a vontade, dizia sempre o que pensava e defendia a verdade. Escreveu livros para crianças e iniciou o movimento editorial brasileiro. Meteu-se em encrenca ao afirmar que o Brasil tinha petróleo (e estava certo). Editou livros para adultos e, desgostoso, voltou a literatura infantil. Morreu a 04/07/48. Em Urupês aparece pela primeira vez a figura de Jeca Tatu. Seu outro livro de contos muito famoso, que se junta a sua bibliografia de 30 obras é Cidades Mortas. Uma característica única de Monteiro Lobato é sua linguagem, simplificada, mais até do que a atual gramática oficial.



"Como se fosse de natural engraçado, vivera até ali da veia cômica, e com ela amanhara casa, mesa, vestuário e o mais. Sua moeda corrente era micagens, pilhérias, anedotas de inglês e tudo quanto bole com os músculos faciais do animal que ri, vulgo homem, repuxando risos ou matrecolejando gargalhadas." Urupês
"Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!" Urupês
 
"A quem em nossa terra percorre tais e tais zonas, vivas outrora, hoje mortas, ou em via disso, tolhidas de incansável caquexia, uma verdade, que é um desconsolo, ressurte e tantas ruínas: nosso progresso é nômade e sujeito a paralisias súbitas. Radica-se mal. Conjugado a um grupo de fatores sempre os mesmos, reflui com eles duma região para outra. Não emite peão. Progresso de cigano, vive acampado. Emigra, deixando para trás de si um rastilho de taperas." Cidades Mortas
"Há de subir, há de subir há de chegar a sessenta mil réis em julho. Café, café, só café!..."Cidades Mortas

 

PRINCIPAIS OBRAS:
  • Urupês (1918) - Aborda a decadência da agricultura no Vale do Paraíba, após o “ciclo” do café.
  • Idéias de Jeca Tatu (1919) - História de Vilela, Camilo e Rita envolvidos em um triângulo amoroso.
  • A Menina do Narizinho Arrebitado (1920) - Tem como personagens principais Emília e Narizinho em mais uma de suas histórias inéditas.
  • O Pica-Pau Amarelo (1939) - Aborda a Turma do Sítio (Emília, Narizinho, Pedrinho, Marquês de Rabicó, Conselheiro, Quindim, Visconde de Sabugosa, Dona Benta, Tia Nastácia, Tio Barnabé, Cuca, Saci, etc) vivendo situações e aventuras que mexem com a imaginação
 
Lima Barreto
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1881. Filho de um tipógrafo da Imprensa Nacional e de uma professora pública, era mestiço de nascença e foi iniciado nos estudos pela própria mãe, que perdeu aos 7 anos de idade. O vício da bebida começou a manifestar-se nele, porém não o impediu de continuar a sua colaboração na imprensa, iniciando em 1914 uma série de crônicas diárias no Correio da Noite. Candidatou-se à vaga na Academia Brasileira de Letras, mas seu pedido de inscrição não foi sequer considerado. De dezembro de 1919 a janeiro de 1920 foi internado no hospício, devido à forte crise nervosa, resultando a experiência nas anotações dos primeiros capítulos da obra O Cemitério dos Vivos. Morreu em 1° de novembro de 1922, na cidade natal.

 
 
 
PRINCIPAIS OBRAS:
  • Recordações do Escrivão Isaías Caminha (romance – 1909)
  • Triste Fim de Policarpo Quaresma (romance – 1911)
  • Numa e Ninfa (romance – 1915)
  • Morte e M. J. Gonzaga de Sá (romance – 1919)
  • Os Bruzundangas (crônica – 1923)
  • Clara dos Anjos (romance – 1924)
  • Histórias e Sonhos (contos – 1956)
 
 
 

Augusto dos Anjos

Notoriamente solitário, Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) formou-se em direito e foi professor de Português. Nervoso, misantropo e solitário, este possível ateu morreu de pneumonia dupla antes de assumir um cargo que lhe daria mais recursos, já que sua única obra foi impressa com recursos de seu irmão. Publicou apenas um único livro de poesias, Eu. Este livro foi mais tarde reeditado como Eu e outras poesias. Sua obra era profundamente pessimista e sua visão da morte como o fim, o linguajar e os temas usados, por muitos considerados como sendo de mau gosto, é única em nossa literatura.
"Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra,"
PRINCIPAIS OBRAS:
  • Saudade (poema - 1900) - Mostra que tanto os atos bons quanto os ruins do passado de alguém são necessários para completar o indivíduo.
  • Eu e Outras Poesias (único livro de poemas - 1912) - Articula o trinômio como reflexo de um momento histórico marcado por um sentimento de perda, um mal-estar disseminado entre os intelectuais, uma angústia diante da falência da Civilização Ocidental e dos ideais do Progresso.
  • Psicologia de um Vencido (soneto) - Com o uso de palavras rebuscadas e repleto de simbolismo, este soneto aborda o pessimismo marcante e retrata a tragédia da morte com naturalidade.
  • Versos íntimos - Como todos os outros poemas e sonetos de Anjos, este também aborda a morte e o próprio "eu" o centro do seu pensamento
 
Graça Aranha

 
José Pereira da Graça Aranha nasceu em São Luís do Maranhão a 21/06/1848, tendo sido juiz e diplomata. Uma influência intelectual decisiva em sua obra é a de Tobias Barreto, que conheceu em 1882 enquanto cursava Direito no Recife. Formou-se em direito seis anos depois e mais quatro anos após exerceu o caso de juiz em Porto do Cachoeiro, ES, onde tomou conhecimento dos fatos que inspiraram Canaã. Seu primeiro trabalho foi o prefácio de um livro em 1894, quando já morava no RJ. Dois anos depois, em 1896, participou da fundação da ABL, mesmo nunca tendo publicado nenhuma obra literária; tal fato só foi possível porque seu amigo Joaquim Nabuco lhe foi "fiador literário" até 1902, ano da publicação de Canaã. Partiu em 1899 com o mesmo Nabuco para Europa como diplomata. Em 1911 sua peça Malazarte foi encenada com sucesso em Paris. Se aposentou da diplomacia em 1921, participou da Semana de Arte Moderna de 1922 e abandonou a ABL 1924. Não é considerado modernista porque sua única obra "modernista", A viagem maravilhosa, de 1939, é feita em um estilo extremamente artificial. Morreu logo antes de publicar sua autobiografia, O meu próprio romance, em 1931. Sua única obra de significado verdadeiro é Canaã, donde provém as passagens que seguem.

"Milkau estava sereno no alto da montanha. Descobrira a cabeça de um louro de ninfa, e sobre ela, e na barba revolta, a luz do sol batia, numa fulguração de resplendor. Era um varão forte, com uma pele rósea e branda de mulher, e cujos poderosos olhos, da cor do infinito, absorviam, recolhiam docemente a visão segura do que iam passando. A mocidade ainda persistia em não o abandonar; mas na harmonia das linhas tranquilas do seu rosto já repousava a calma da madureza que ia chegando." Canaã

"Tudo o que vês, todos os sacrifícios, todas as agonias, todas as revoltas, todos os martírios são formas errantes de Liberdade. E essas expressões desesperadas, angustiosas, passam no curso dos tempos, morrem passageiramente, esperando a hora da ressurreição... Eu não sei se tudo o que é vida tem um ritmo eterno, indestrutível, ou se é informe e transitório... Os meus olhos não atingem os limites inabordáveis do Infinito, a minha visão se confina em volta de ti [...] Eu te suplico, a ti e à tua ainda inumerável geração, abandonemos os nossos ódios destruidores, reconciliemo-nos antes de chegar ao instante da Morte..." Canaã
 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário